Por Stod Magazine
O conceito de requinte e exclusividade sempre refletiu os valores e aspirações de sua época. No passado, o prestígio estava atrelado a posses materiais, raridade e ostentação. Nas cortes europeias do século XVII, por exemplo, isso se manifestava em joias preciosas, tecidos importados e banquetes exuberantes, símbolos claros de poder e status. Com a Revolução Industrial e o crescimento das classes médias, esse prestígio começou a se democratizar, associando-se à inovação tecnológica e ao design exclusivo.
No século XX, a sofisticação ganhou contornos globais, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, quando a recuperação econômica impulsionou o consumo em massa. Marcas como Chanel, Rolls-Royce e Cartier consolidaram-se como referências de exclusividade e refinamento. O valor passou a ser medido por objetos caros, raros e muitas vezes inalcançáveis para a maioria.
O século XXI, porém, trouxe uma mudança de paradigma profunda e acelerada. A pandemia de Covid-19 foi um marco que expôs vulnerabilidades globais, redefiniu prioridades e acelerou tendências que já vinham surgindo. Entre elas, a transformação do conceito de requinte, que hoje está menos ligado ao ter e mais ao ser.
Atualmente, essa nova forma de distinção está cada vez mais associada à busca por tempo livre, saúde mental e experiências autênticas. Segundo a consultoria Bain & Company, o mercado global voltado a esse segmento deve ultrapassar 360 bilhões de euros em 2025. A maior parte desse crescimento ocorre em produtos e serviços que priorizam o bem-estar e a experiência, e não apenas a posse de bens materiais.
Um estudo da McKinsey de 2023 revelou que mais de 70% dos consumidores de alta renda preferem investir em experiências que promovem equilíbrio emocional e presença, como viagens focadas em mindfulness, retiros de autocuidado e serviços personalizados, em vez de roupas ou acessórios tradicionais. O mercado vem respondendo a essa demanda com ofertas que ultrapassam a materialidade para entregar significado e valor intangível.
Grandes nomes desse segmento, como Chanel, Gucci e Hermès, ampliaram seus portfólios para incluir serviços exclusivos de bem-estar, programas de meditação e experiências personalizadas que valorizam o tempo e a desaceleração. A LVMH, líder mundial no setor, investiu em spas sofisticados, parcerias com profissionais de saúde mental e coleções que destacam simplicidade e propósito.
Além do foco no equilíbrio pessoal, a sustentabilidade e o impacto social tornaram-se imperativos para marcas que buscam manter relevância. Segundo relatório da Deloitte, 80% dos consumidores com alto poder aquisitivo levam em conta fatores ambientais e sociais ao escolher uma marca. Assim, a distinção não está mais apenas na exclusividade material, mas também na responsabilidade e consciência.
Essa transformação traz implicações profundas para empresários e líderes do setor. Oferecer apenas produtos caros não é suficiente. É preciso proporcionar experiências que efetivamente melhorem a vida do cliente. Tempo para desacelerar, espaço para reflexão e cuidados com a saúde mental se tornaram os bens mais valiosos.
A própria noção de tempo se redefine nesse contexto. Tempo de qualidade, livre das pressões e do ritmo acelerado da vida contemporânea, é o ativo mais precioso que as marcas podem oferecer. Isso envolve criar ambientes, produtos e serviços que promovam presença e significado.
O mercado está diante de uma nova fronteira. O desafio não é simplesmente vender, mas tornar-se guardião daquilo que não pode ser comprado: tempo e equilíbrio emocional.
Os que liderarem essa transformação estarão à frente não apenas das tendências de consumo, mas de uma mudança cultural que moldará os próximos anos.
Em resumo, o prestígio do futuro será medido pela qualidade do que se vive, não pelo que se possui. Tempo, saúde mental e propósito são as novas moedas da exclusividade.